Transtornos mentais como falhas ou complicações de sustentabilidade de contingências de reforçamento
ChatGPT
A implicação implícita nos diagnósticos de transtornos mentais de que as pessoas deveriam "nascer sabendo" como satisfazer contingências de reforçamento revela uma expectativa não declarada, porém estruturante, nas práticas psiquiátricas tradicionais: a de que existir psiquicamente de forma saudável corresponde, por padrão, a uma adequação espontânea, automática e universal às normas de funcionamento social. Essa expectativa naturaliza certos repertórios comportamentais como se fossem dados biológicos ou evidentes desde o nascimento, apagando o papel do ensino, das condições ambientais e da história de reforçamento na formação desses repertórios.
Sob a lente da análise do comportamento, especialmente na perspectiva experimental e pragmática, os chamados "transtornos mentais" podem ser reinterpretados como:
1. Falhas na sustentabilidade de contingências de reforçamento
Isto é, o ambiente em que o indivíduo está inserido — ou esteve historicamente inserido — não é capaz de manter, reforçar ou promover comportamentos adaptativos de modo consistente. Alguns exemplos:
Contingências instáveis ou contraditórias (regras sociais que mudam, normas familiares incoerentes, reforçamento intermitente para comportamentos de cuidado).
Extinção contínua de comportamentos adaptativos (pessoas que tentam interações sociais, mas são sistematicamente ignoradas, punidas ou rejeitadas).
Ambientes onde a punição predomina sobre o reforço, levando à inibição generalizada de comportamento (o que pode ser rotulado como "apatia", "depressão" ou "esquizofrenia").
2. Déficits ou limitações no repertório operante
A ausência ou fragilidade de repertórios comportamentais que permitiriam ao indivíduo:
Satisfazer contingências sociais (ex.: habilidades sociais, linguagem, manejo emocional).
Alterar ou fugir de contingências aversivas de forma eficaz (ex.: comportamentos de autodefesa verbal, negociação de regras).
Construir novos ambientes mais reforçadores (ex.: buscar novos grupos, criar contextos mais adequados ao seu funcionamento).
Ao diagnosticar alguém com um transtorno mental, frequentemente se ignora que:
O indivíduo pode nunca ter tido oportunidade de aprender os repertórios exigidos.
O ambiente pode ter reforçado repertórios alternativos que agora são considerados problemáticos.
A própria rotulação diagnóstica pode impedir o acesso a novos contextos de reforçamento (rejeição social, medicalização, institucionalização).
Crítica Comportamental à Naturalização Diagnóstica
Ao diagnosticar um "transtorno", o discurso médico frequentemente transforma consequências históricas de relações ambientais em "defeitos internos" ou "doenças cerebrais". Isso implica, ainda que não explicitamente, que o normal é saber como viver, e que quem não sabe está biologicamente errado. Essa suposição esconde o fato de que o que é considerado "normal" é, quase sempre, o resultado de extensos processos de ensino, reforçamento e controle social — muitas vezes seletivos, opressivos e inconsistentes.
Caminhos Alternativos
Uma abordagem baseada na análise do comportamento sugere que:
Diagnósticos sejam substituídos (ou complementados) por descrições funcionais dos comportamentos em contexto.
A atenção se volte à reconstrução de contingências: identificar o que está sendo reforçado, o que está em extinção, que tipo de modelagem é possível.
Se valorize a produção de ambientes reforçadores e o ensino de novos repertórios, em vez da medicalização da ausência deles.
Se compreenda que o sofrimento ou o "mau ajustamento" não é necessariamente sinal de disfunção, mas pode ser expressão legítima de contingências insustentáveis ou de coerência subjetiva diante da opressão.