Contingências de reforço subordinadas: crítica behaviorista à hierarquia biomédica em saúde mental
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Vamos analisar e criticar os três postulados centrais do modelo biomédico que, ao serem assumidos, levaram à inversão da hierarquia epistêmica — ou seja, à conclusão de que o modelo biomédico (MED) seria mais ontologicamente robusto do que a análise experimental do comportamento (AEC).
A crítica será feita a partir dos pressupostos do behaviorismo radical de B. F. Skinner, que opera com uma ontologia monista materialista, anti-dualista, e que busca explicações causais em variáveis ambientais historicamente definidas.
📌 POSTULADO 1 (SAC2):
A dispensabilidade das contingências é mais retratável do que a da medicação.
Formalmente:R(D(C)) > R(D(M))
❌ Crítica Behaviorista Radical:
Negação da centralidade das contingências:
O behaviorismo radical parte do princípio de que o comportamento é função das contingências de reforço e do histórico de interações com o ambiente.
Tratar a dispensabilidade das contingências como mais plausível que a da medicação é negar a premissa básica de toda a análise do comportamento.
Equívoco epistemológico:
A medicação (M) é, no máximo, uma variável interveniente ou uma condição antecedente tratável como estímulo discriminativo ou modulador.
Substituir a contingência por uma substância é epistêmicamente redutivo: abandona-se o comportamento como unidade de análise.
Perigo da circularidade causal:
Ao tomar a medicação como causa primária e rebaixar as contingências a fatores secundários, entra-se em explicações circulares baseadas em conceitos internos não diretamente observáveis, como “equilíbrio neuroquímico”.
📌 POSTULADO 2 (SAC3):
A análise experimental do comportamento não assimila a medicação como variável ambiental.
Formalmente:¬A(M, C)
❌ Crítica Behaviorista Radical:
Desconhecimento da farmacologia comportamental:
O behaviorismo radical já desenvolveu amplamente uma integração da farmacologia com a análise funcional do comportamento.
O próprio Skinner introduziu a noção de que eventos fisiológicos podem ser tratados como parte do ambiente interno, com função discriminativa ou motivadora — mas sem status causal prioritário.
Erro ontológico:
Ao afirmar que AEC “não assimila a medicação”, assume-se erroneamente que o behaviorismo rejeita eventos fisiológicos, quando, na verdade, ele os inclui como eventos físicos no universo observável, apenas subordinados à análise funcional.
Falsa dicotomia:
O postulado impõe uma dicotomia falsa entre “explicação farmacológica” e “explicação comportamental”.
O behaviorismo radical não exclui variáveis fisiológicas, apenas as reinterpreta funcionalmente, mantendo a primazia das contingências.
📌 POSTULADO 3 (SAC1):
O modelo biomédico assimila contingências como técnicas auxiliares.
Formalmente:A(C, M)
❌ Crítica Behaviorista Radical:
Assimilação meramente pragmática, não teórica:
Quando o MED assimila contingências como “psicoeducação”, “adesão ao tratamento” ou “reforço de comportamento saudável”, faz isso sem aceitar os fundamentos epistemológicos do behaviorismo.
É uma assimilação instrumentalista, não uma assimilação científica ou ontológica.
Hierarquia teórica invertida:
O behaviorismo trata a medicação como variável potencialmente assimilável, pois é um estímulo no ambiente físico.
O MED, ao contrário, trata as contingências como instrumento técnico, mas sem integrá-las ao seu corpo explicativo central, que é biologicista.
Perpetuação do dualismo mente-corpo:
Ao manter a medicação como “tratamento da causa”, e a terapia como “apoio comportamental”, o modelo biomédico preserva o dualismo: mente como cérebro, comportamento como aparência externa.
O behaviorismo radical recusa essa separação: todo comportamento é físico, operante, e suas causas estão no ambiente (externo ou interno).
🧩 Conclusão Crítica Geral
🧠 Em resumo:
Esses postulados, embora lógicos em termos internos, violam os compromissos ontológicos e epistêmicos fundamentais do behaviorismo radical, ao:
Priorizar variáveis biológicas como causas principais,
Subordinar contingências a efeitos colaterais ou suportes,
E negar a possibilidade de explicação comportamental plena das intervenções médicas.
Por isso, qualquer hierarquia que coloque o modelo biomédico acima da AEC em termos ontológicos é incompatível com o behaviorismo radical. Ela só se sustenta fora da tradição behaviorista, ou dentro de um paradigma médico-centrado.