Aceitação, influência e relevância econômica do conhecimento científico e finalidades sociais
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O tema da aceitação e relevância social e econômica do conhecimento científico pode ser desenvolvido com base na ideia de que a ciência nunca opera num vácuo cultural, moral ou político. Seu reconhecimento e valorização dependem fortemente das finalidades, valores e ideologias às quais a sociedade entende que a ciência deve servir. Essas preferências são historicamente situadas, variam entre grupos sociais e são objeto de estudo da sociologia e antropologia da ciência.
1. Finalidades sociais atribuídas à ciência
A aceitação do conhecimento científico está frequentemente condicionada à sua utilidade percebida dentro de finalidades sociais valorizadas. Por exemplo:
Ciência como instrumento de progresso técnico e econômico: Sociedades industrializadas e capitalistas tendem a valorizar conhecimentos que resultem em inovação tecnológica, produtividade e competitividade econômica. Assim, áreas como biotecnologia, inteligência artificial e engenharia recebem amplo apoio, enquanto campos que não têm aplicação econômica imediata, como filosofia da ciência ou linguística histórica, muitas vezes são marginalizados.
Ciência como promotora da saúde e do bem-estar: A biomedicina é amplamente legitimada porque responde a uma demanda social concreta: o controle de doenças e o prolongamento da vida. No entanto, essa finalidade também é moldada por valores culturais dominantes — por exemplo, o ideal de produtividade permanente que transforma o corpo saudável em um recurso econômico.
Ciência como instrumento de controle social: Certas ciências aplicadas, como a psiquiatria, a psicologia ou a criminologia, são aceitas em função de sua utilidade percebida na manutenção da ordem social — mesmo que isso signifique a exclusão, medicalização ou criminalização de comportamentos desviantes. Essa aceitação é ideológica e não neutra.
2. Valores e ideologias subjacentes
Os valores que determinam o que é considerado “bom conhecimento” estão longe de serem universais. A sociologia da ciência demonstra que:
O conhecimento é socialmente construído: Como mostrou Thomas Kuhn, os paradigmas científicos são moldados por consensos que envolvem valores estéticos (simplicidade, elegância), interesses institucionais e disputas de poder.
A ciência serve a ideologias dominantes: Como destacam autores como Sandra Harding e Donna Haraway, a objetividade científica muitas vezes reflete perspectivas hegemônicas, como o androcentrismo, o eurocentrismo ou o racionalismo ocidental. O conhecimento que contraria essas visões pode ser desvalorizado, mesmo quando empiricamente consistente.
Ciência e poder estão entrelaçados: Michel Foucault mostrou que certos saberes são institucionalizados porque se articulam com formas específicas de governo dos corpos e da população (biopoder). Isso implica que a aceitação de um conhecimento depende de sua capacidade de reforçar normas desejadas de conduta, produtividade e cidadania.
3. A antropologia da ciência e os regimes de verdade
A antropologia da ciência evidencia que diferentes sociedades constroem diferentes formas de legitimar e aplicar conhecimentos:
Em contextos não ocidentais, o conhecimento tradicional ou indígena pode ser marginalizado por não se enquadrar nos critérios formais da ciência moderna, mesmo quando eficaz na prática.
Mesmo dentro das sociedades ocidentais, há variações. Em países com forte tradição religiosa, a ciência é mais aceita quando compatível com crenças espirituais; em países seculares, ela é mais aceita se estiver alinhada com valores de autonomia individual e racionalidade.
A ciência, portanto, não é apenas um acúmulo de dados empíricos, mas um regime de verdade que ganha legitimidade quando se alinha a formas dominantes de pensar e sentir o mundo.
4. Ciência e economia política
A aceitação econômica do conhecimento científico está ligada à sua capacidade de:
Aumentar a produtividade econômica (ciência útil ao mercado);
Reduzir custos com saúde, segurança, previdência (ciência reguladora);
Manter a estabilidade social (ciência disciplinadora)
Isso significa que, muitas vezes, a ciência é moldada por interesses corporativos, estatais e ideológicos — sendo aceita e financiada quando contribui para metas políticas e econômicas hegemônicas.
5. Conclusão: aceitação seletiva e valor instrumental
A aceitação social e econômica da ciência é profundamente seletiva: ela depende do quanto o conhecimento serve finalidades previamente valorizadas pela sociedade, as quais são descritas e analisadas pela sociologia e antropologia da ciência.
Essas finalidades, por sua vez, não são neutras, mas orientadas por valores morais, interesses políticos e ideologias dominantes. Assim, o desafio contemporâneo é refletir criticamente sobre a quem e para que serve o conhecimento científico.