A perplexidade com o sistema de incentivos de mercado e da política formal entre pessoas em tratamento de saúde mental
ChatGPT
A perplexidade e a crítica recorrente dos usuários da saúde mental do SUS em relação ao capitalismo, ao sistema político e à lógica dos incentivos de mercado podem ser compreendidas a partir de múltiplas dimensões — subjetivas, históricas, econômicas e institucionais. A seguir, apresento uma explicação estruturada com base nessas dimensões:
1. Vivência Direta da Exclusão Social
Usuários da saúde mental muitas vezes vivem em condições de extrema vulnerabilidade econômica, social e simbólica. Experimentam, no corpo e na prática, o que significa ser descartado por um sistema que valoriza produtividade, autonomia individual e capacidade de consumo. Isso os coloca numa posição de observadores críticos do discurso meritocrático e empreendedor, pois suas próprias vidas evidenciam as falhas dessas promessas.
Exemplo de percepção:
> “O sistema só valoriza quem trabalha, quem dá lucro. E quem não consegue? A gente vira peso.”
2. Contraste com os Ideais da Reforma Psiquiátrica e do SUS
A reforma psiquiátrica brasileira e o SUS foram pensados a partir de valores coletivistas, de cidadania plena, equidade, participação social e solidariedade. Dentro desse universo, o discurso de cuidado e de direitos colide frontalmente com a lógica de mercado e de privatização dos serviços públicos.
Implicação:
Os usuários entram em contato com práticas e discursos nos CAPS e serviços de base comunitária que afirmam seu valor como sujeitos de direitos — e isso entra em dissonância com o tratamento que recebem do mundo lá fora, que os marginaliza.
3. Experiência de Invisibilidade Política
Muitos usuários percebem que os partidos políticos e o sistema representativo não os incluem de fato. São instrumentalizados durante campanhas, mas não veem mudanças reais em suas condições de vida. Essa sensação reforça o ceticismo e a perplexidade diante da política institucional.
Exemplo de sentimento comum:
> “Político só aparece aqui pra tirar foto, depois some. A gente continua sem remédio, sem comida, sem nada.”
4. Consciência Crítica Desenvolvida nos Serviços
Alguns serviços de saúde mental promovem rodas de conversa, oficinas e espaços de escuta e elaboração coletiva — práticas que incentivam a crítica social, política e econômica. Assim, os usuários não apenas sentem, mas aprendem a nomear e interpretar sua exclusão como efeito de estruturas sociais injustas.
5. Descompasso entre Valores Culturais Tradicionais e as Exigências de Autonomia Liberal
Muitos desses sujeitos vêm de contextos marcados por relações de ajuda mútua, familiarismo, solidariedade de base comunitária e religiosidade. O discurso capitalista, centrado na competição individual, na eficiência e na lógica do mérito, soa profundamente desumanizador.
6. O Lugar da Loucura e do Sofrimento Psíquico na Sociedade de Mercado
O sofrimento psíquico — especialmente quando crônico ou considerado “incapacitante” — não encontra lugar de valor na lógica produtivista. A loucura não é compatível com os ideais de performance, eficiência, autonomia plena e sucesso individual que movem o capitalismo tardio. Os usuários, por viverem isso na pele, tornam-se analistas contundentes dessa contradição.
7. Reação Ética Diante da Inequidade
Muitas falas revelam não só perplexidade, mas indignação moral. Há uma intuição forte de que algo está profundamente errado em um sistema que normaliza a desigualdade e despreza os mais frágeis. Essa percepção não se baseia apenas em interesses pessoais, mas em valores éticos de justiça e cuidado.
Conclusão
Esses discursos não são simples queixas individuais, mas sim formas de resistência, análise e elaboração crítica de experiências de exclusão. Eles apontam para uma racionalidade alternativa à racionalidade de mercado, que valoriza a vida em sua dignidade intrínseca, e não como função da utilidade econômica ou da inclusão política formal.