A busca por um perfil disposicional permanente através do diagnóstico psiquiátrico correto e a flexibilidade de contingências de reforçamento
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A psiquiatria biológica, especialmente em sua vertente hegemônica, busca frequentemente identificar perfis disposicionais permanentes — isto é, traços ou características psicológicas e comportamentais relativamente estáveis ao longo do tempo e atribuídos a causas neurobiológicas ou genéticas. Essa busca se reflete nas tentativas persistentes de realizar um diagnóstico correto, que seria supostamente mais “preciso” ou “essencial” do ponto de vista etiológico, mesmo que isso envolva múltiplas trocas de diagnóstico ao longo do tempo.
Essas trocas ocorrem, por exemplo, quando um paciente inicialmente é diagnosticado com transtorno de ansiedade, depois com transtorno bipolar, depois com esquizofrenia, e assim por diante — revelando um esforço para encontrar uma “etiqueta diagnóstica” que se encaixe em uma hipótese estável sobre a origem do comportamento desviante. Na prática clínica, isso frequentemente gera uma narrativa de fixação identitária do sujeito à sua condição, como se ele tivesse uma “estrutura psíquica” definitiva que apenas espera ser corretamente nomeada.
Confiabilidade e validade dos diagnósticos psiquiátricos
Essa prática entra em conflito com os próprios limites epistemológicos da psiquiatria. A confiabilidade (isto é, o grau de concordância entre diferentes profissionais ao aplicar um diagnóstico) tem sido historicamente frágil na psiquiatria, apesar de tentativas de padronização como o DSM e o CID. Mais grave ainda, a validade (ou seja, se o diagnóstico realmente corresponde a uma entidade clínica ou etiológica identificável) é baixa para muitos transtornos psiquiátricos. Como o próprio Thomas Insel, ex-diretor do NIMH (Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA), afirmou em 2013, os diagnósticos do DSM são "baseados em um consenso sobre grupos de sintomas, não em medidas objetivas".
A prática de trocar diagnósticos em busca de um perfil essencial revela que a psiquiatria, muitas vezes, trata categorias heurísticas como se fossem essências biológicas estáveis, o que reforça uma visão disposicional e determinista do comportamento humano.
Flexibilidade do comportamento operante e contingências
Essa visão contrasta profundamente com a perspectiva da Análise do Comportamento, que enfatiza a flexibilidade comportamental e a possibilidade de mudanças significativas nos repertórios operantes ao longo da vida. A análise experimental do comportamento mostra que os padrões de comportamento não são produtos de disposições internas fixas, mas sim resultados de histórias de reforçamento e contingências ambientais. Com a alteração dessas contingências — por exemplo, por meio de intervenções educativas, mudanças culturais ou reorganizações no ambiente social — novos comportamentos podem ser aprendidos e antigos podem se extinguir ou se transformar.
Essa plasticidade comportamental mostra que não há necessidade de se postular um núcleo patológico fixo no sujeito. Comportamentos considerados "anormais" ou disfuncionais podem ser analisados à luz de seu contexto de reforçamento, e não como expressões inevitáveis de uma condição neurobiológica permanente.
Conclusão
A busca psiquiátrica por um diagnóstico correto e estável pode ser vista como uma tentativa de fixar um sujeito a uma identidade psicopatológica, baseada em pressupostos biologizantes e disposicionais. Isso colide com evidências tanto empíricas (sobre a baixa confiabilidade e validade dos diagnósticos) quanto conceituais (vindas da análise do comportamento), que apontam para a historicidade e mutabilidade do comportamento humano.
Portanto, é possível e desejável compreender o comportamento humano como plasticamente construído em relação às contingências ambientais, o que abre caminho para intervenções que não reforcem estigmas ou determinismos, mas promovam autonomia, aprendizagem e transformação pessoal.